ARCANO 1 - O MAGO - LEI DA ADAPTAÇÃO
ARCANO I – O MAGO LEI I – LEI DA ADAPTAÇÃO (PARTE 1) INTRODUÇÃO
O Mago talvez seja o Arcano mais visitado do Tarô. Não fosse ele o primeiro da série e portanto aquele que todos os curiosos consultam entes de desistir de se aprofundar. Mas não é apenas por isso... Quem não gostaria de ser um Mago ou um Bruxo? Esse arquétipo exerce uma atração quase irresistível sobre as pessoas, despertando um sentimento que poderia ser descrito como uma saudade daquilo que já fomos um dia. Todo mundo gostaria de ser um Harry Potter... O sucesso do personagem era inevitável.
Entenda, no entanto, que todos somos Magos de alguma forma. Todos devem conhecer o “Mágico de Oz”, um conto dito infantil mas que, na realidade, como a maioria desses relatos, mostra, na verdade, um caminho iniciático. A lição neste caso é demonstrar que o importante é o caminho e não o ponto de chegada, que pode acabar se tornando uma decepção. Depois de todas as peripécias em que Dorothy e seus companheiros de viagem provam a sua determinação e o seu valor, ao chegarem ao seu destino se deparam com um Mágico medíocre e falso, um verdadeiro charlatão, que tenta justificar seu comportamento com uma frase antológica: “ – Eu não sou mau ou perverso, o que eu sou é um péssimo Mágico!”.
É exatamente isso que nós somos: péssimos Magos.
Os que ainda não notaram, observem que na maioria dos Tarôs o Mago está com um dos braços erguido em direção ao Céu e o outro apontando para baixo. O braço que aponta para cima segura um bastão que pode ser considerado a Varinha Mágica do Mago. Na parte superior do Arcano podem ser vistas representações explícitas ou figuradas que remetem diretamente para o símbolo representativo do infinito: os olhos que tudo veem e a aba do chapéu, além do próprio símbolo do infinito. Sobre a mesa, objetos ligados a três dos elementos – Água, Ar e Terra – com o objeto ligado ao Fogo na mão erguida do Mago.
O Mago se coloca claramente numa posição de mediador entre o Céu e a Terra, cabendo-lhe captar as energias sutis dos planos superiores e trazê-las para o mundo manifestado, para isso tendo permissão de usar as ferramentas à sua disposição – os quatro Elementos – para transmutar essas energias a aplicá-las no seu ambiente material, o que é representado, no caso do Tarô Egípcio, pelo Cubo no Plano Físico, representação da materialização. A postura assumida pode ser vista ainda como uma alusão à aplicação do segundo Princípio Hermético – “O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima, para realizar o milagre da unidade.” A inclusão do infinito na parte superior do arcano nos afirma que não há limites para o que pode ser acessado nos planos superiores. Ali está disponível a essência de todas as possibilidades, mas buscá-las e utilizá-las pode não ser assim tão fácil.
Aqueles que assistiram o primeiro filme da série Harry Potter devem se lembrar da sua ida ao Beco Diagonal comprar o seu enxoval para o primeiro ano em Hogwarts. O dono da loja de Varinhas Mágicas diz a ele que “a Varinha escolhia o Bruxo” e o que se vê então é o pandemônio se instalar no ambiente da loja, até ser encontrado o instrumento correto. A “escolha” anunciada era, na verdade, uma busca da sintonia do Mago com um de seus principais instrumentos de trabalho. Todos temos um “tom” no Universo que precisa estar afinado com as energias a serem captadas e a Varinha simboliza o equipamento sintonizador – um acoplador que permitirá que as energias sutis possam entram em ressonância com o mediador/transdutor (O Mago), para serem aplicadas no mundo da matéria. Há portanto que ser encontrado o nosso “tom” no Universo, sem isso temos tudo para continuar a ser péssimos Magos.
Supondo que a sintonia seja conseguida, tudo vai depender da habilidade e da competência do Mago na utilização e manipulação dos Elementos à sua disposição, tirando o melhor proveito possível dessas energias, sem esquecer, no entanto, que armazenar energias não produz nada; é preciso consumi-la para que o processo continue. Uma taça só pode ser preenchida novamente depois que for esvaziada, um conhecimento não utilizado se torna tóxico, uma ideia não aproveitada não tem dono, uma inspiração não colocada numa obra gera frustração e um dom não utilizado se atrofia, da mesma forma que uma máquina parada enferruja e emperra.
Transmutar não é tão difícil e transcendental como alguns preferem acreditar. Uma cozinheira prendada é uma verdadeira Alquimista, transmutando através do fogo alimentos crus em refeições deliciosas que podem ser saboreadas por todos os convivas; um escritor transforma um ideia brilhante em um livro de sucesso, para o deleite de muitos leitores; até mesmo um atleta talentoso utiliza o seu dom para proporcionar diversão e alegria aos seus torcedores; concentrar-se, meditar ou orar são práticas extremamente úteis, desde que o resultado delas seja destinado à aplicação concreta no mundo real, seja diretamente ou indiretamente sob a forma de reforço energético, equilíbrio ou novos insights para prosseguir. Note-se, porém, que tudo desemboca no meio ambiente, no coletivo – nada deve ser guardado ou acumulado. Se não conseguimos produzir algo de útil para o Ambiente e para o Coletivo que nos cerca, continuamos sendo péssimos Magos.
Quem sabe podemos começar a melhorar ao longo das próximas páginas?
ARCANO I – O MAGO LEI I – LEI DA ADAPTAÇÃO (PARTE 2 - A ADAPTAÇÃO

Assim como o Mago é o primeiro Arcano do Tarô, também a Lei I é a primeira a influenciar os nossos processos na vida real, tanto os mentais, como os materiais. Isso significa que estamos falando de coisas novas: novos caminhos, novas ideias, novas situações, novos desafios, novas perspectivas, novas possibilidades, enfim, tudo o que é novo. É um engano achar que novo é apenas o inédito... não necessariamente. Para que seja novo para nós, basta que seja diferente do habitual. Até mesmo uma consequência no nosso Meio Ambiente de um ato ou processo anterior desencadeado por nós mesmos pode ciar uma nova instância com a qual seremos obrigados a lidar. Por isso, a “Lei” obriga a que nos adaptemos às novas situações. É uma Energia de Adaptação.
Numa das Imagens do Arcano 1 aparece “Le Bateleur”, do Tarô de Marselha, que poderia ser traduzido como Prestidigitador, Malabarista, Pelotiqueiro, Bufão, Acrobata ou Cômico e que vem expressar uma das características impressas por esta Lei nos seus portadores.
Conta-se que nos Tarôs medievais esse Arcano queria representar o artista, o bufão ou o comediante ambulante que, de cidade em cidade, com um grupo de atores, ia levando comédias, notícias e vendendo elixires fantásticos. As autoridades viam esses grupos com desconfiança, pois eles também eram veículos de novas e revolucionárias ideias, que transmitiam de um lugar para outro. Este Arcano já era, desde então, o arauto do novo, característica da Lei I.
Adaptar-se implica, em última análise, em sobreviver. Esta é a energia que assegura a sobrevivência frente às mudanças exteriores oriundas do Meio Ambiente, e pode provocar, inclusive, mutações genéticas em algumas espécies. Qualquer Lei se destina a manutenção de algum tipo de equilíbrio e portanto elas precisam oferecer os recursos para isso. Quem estabelece uma regra deve prever os recursos para que ela seja cumprida ou, pelo menos, deveria.
Quais os recursos necessários para promover uma adaptação? Nada poderia ser melhor do que versatilidade, criatividade, coragem, determinação e, principalmente, iniciativa. Sim, a iniciativa é a marca registrada desta Lei, e parece consolidar todas as outras características numa vontade quase instintiva de agir. A consequência disso é a Impulsividade.
Esta Lei é muito explorada pelo Comércio em geral ao estimular a “compra por impulso”, da qual são presas fáceis os que portam esta energia na primeira camada dos seus Eneagramas. Novos produtos, novas embalagens, novos sabores, novos formatos, tudo para despertar o interesse desse público-alvo.
Mas, por outro lado, a facilidade de adaptação acaba se cansando do velho e “ansiando” pelo novo. O que é rotineiro passa a incomodar e a necessidade de uma novidade acaba gerando ansiedade e impaciência. Esses são alguns dos aspectos do “lado negro da Força”, neste caso. Além disso, quem se adapta com facilidade, caso não administre bem esta Lei, pode acabar não se preocupando em tentar mudar o rumo dos acontecimentos, por julgar que não precisa, após uma análise custo-benefício influenciada por outras Leis. Como sabe que pode se adaptar a novas situações, deixa de levar em conta que é impossível prever com exatidão todas as variáveis envolvidas, o que costuma trazer dissabores inesperados.
Na terceira parte desta análise do Mago e da Lei I, vamos tratar de outro aspecto importante que é o da Individualidade e merece uma abordagem especial.
É bom frisar que para deixar de ser um péssimo Mago não basta conhecer este Arcano e esta Lei. O Mago percorre o caminho até o 22 e vai ter de conhecer todos os seus meandros até chegar lá.
ARCANO I – O MAGO LEI I – LEI DA ADAPTAÇÃO (PARTE 3 - UNIDADE E INDIVIDUALIDADE)
Uma das sensações mais intrigantes pela qual se pode passar é, em determinado momento, sentir-se como um Ser diferenciado, com existência própria e única, o que poderia ser chamado de “lampejos de consciência de si”. Logo, uma série de dúvidas, perguntas e pensamentos, até mesmo contraditórios, assomam à mente, trazendo um misto de dúvida, preocupação e até mesmo de Esperança. A principal pergunta é: como consigo ser EU? Como consegui assumir esta individualidade? Quem já passou por isso sabe que é uma sensação assustadora e indescritível – mal comparando, é como estar, ao mesmo tempo, dentro e fora de si mesmo. Mas, normalmente é um momento fugaz. Em seguida, aquela quase certeza de que uma individualidade não pode desaparecer depois de estabelecida – esta é a parte da Esperança da imortalidade.
Chagamos, então, ao grande desafio: INDIVIDUALIDADE X UNIDADE.
A unificação de alguns elementos dá origem a uma individualidade. Assim, por exemplo, as células individuais se unem para formar um órgãos que passam, cada um, a ter uma vida individual que, por sua vez, ao se agruparem formam um organismo que passa a ter, ele próprio, uma vida individual. Todos os reinos orgânicos passam a integrar uma nova individualidade que se chama Planeta. Um grupo de planetas constitui um Sistema Planetário e, depois, Galáxias e assim por diante, até o infinito.
Em geral, uma célula se considera independente e luta com as outras pelo seu interesse próprio, ignorando a vida do órgão ou do organismo de que faz parte. Para ela, este nada mais é do que um ambiente no qual ela desenvolve a sua pequena vida própria. Do mesmo modo, muitos cientistas acadêmicos assemelham-se a essa célula, tendo, em relação à Terra e ao Sistema Solar, um comportamento irreverente, negando-lhes vida individual e considerando-os apenas um ambiente inanimado no qual eles desenvolvem a sua “benéfica” atividade. O Planeta, por sua vez, encara esse homem com o mesmo desprezo com que este encara as suas células que se renovam.
O processo de individualização existe também numa Corporação. Formada por um grupo qualquer de homens, ela passa a ter uma vida própria, passando, na maioria dos casos, a tratar com desprezo os interesses particulares de cada um de seus membros.
Jung considerava que o processo de individuação humana equivalia a autorrealização, ou seja, um crescimento da parte manifesta do Ser absorvendo porções cada vez maiores do Inconsciente, o que está perfeitamente de acordo com a ideia da limpeza do ponto 8 do Eneagrama para tirar o lixo energético que encobre o Ser impedindo a sua plena manifestação. Equivale dizer que este processo elimina progressivamente as polaridades da mente, deslocando do Inconsciente para a luz da Consciência o que estava contido na Sombra. A ausência de polaridades vai se traduzir em total aceitação de tudo que assombra o indivíduo, tira a sua tranquilidade, causa medo e afeta sua maneira de encarar o mundo. Uma maneira muito simples e direta de entender o que se costuma chamar de “iluminação” é considerá-la como sendo a ausência de Sombra, depois de iluminada pela luz da Consciência.
Para poder perceber a nossa individuação é importante olharmos para nós mesmos e identificarmos o que temos conseguido. Em que momentos ela se manifesta? Por quanto tempo ela perdura? Rapidamente podemos observar que o nível de individuação conseguido pelo ser humano permanece muito baixo, pois suas manifestações, em geral, aparecem através de atos egóicos, tais como a possessividade, o próprio egoísmo, o desinteresse pelo coletivo do qual faz parte e pelo próprio Planeta, sem falar na preocupação com as opiniões alheias. Em outras palavras, gostaríamos de saber qual o tamanho do nosso Ser ou, para ser mais exato, que proporção do meu Ser, do meu verdadeiro EU, consigo manifestar na minha vida real?
Os raros momentos de manifestação de individualidade superior acontecem quase sempre involuntariamente, quando nos pegamos, em momentos de reflexão, questionando e procurando entender essa individualidade que nos parece, nesses momentos, tão obscura e enigmática. São ocasiões nas quais, de algum modo, conseguimos unificar nossos elementos constituintes (corpo, alma e espírito) e produzimos um estado alterado de consciência que nos transporta a um nível ao qual não estamos acostumados e que, por isso, nos causa medo e insegurança, fazendo com que, assustados, saiamos rapidamente, por não querermos enfrentar as respostas que poderão advir, ou sejamos tomados por alguma forma de apego que teme se afastar de uma situação conhecida e confortável. A sensação é como se acordássemos sobressaltados de um pesadelo.
Os instantes de alinhamento são raros e nós, por não estarmos preparados, perdemos oportunidades valiosas de aproveitá-los e aprender a conviver com eles, tirando o melhor proveito e fazendo com que se tornem mais frequentes e duradouros.
A unidade advém do alinhamento entre os elementos, momento em que o homem consegue efetivamente exercer o seu papel de mediador entre o Céu e a Terra, papel de um bom Mago, fazendo a conexão entre essas duas energias. É quando o artista tem a sua inspiração, o cientista grita “eureka”, o filósofo torna-se sábio, o empresário vislumbra a grande oportunidade. Para criar ele precisa usar a matéria prima da qual dispõe: os 4 elementos.
Fica mais fácil vislumbrar o trabalho a ser desenvolvido se utilizarmos, em vez dos elementos, propriamente ditos, aquilo que eles representam para o ser humano no seu processo evolutivo e que podem ser traduzidos pelos quatro verbos do Mago, os quatro Verbos Sagrados, escritos nas formas simbólicas da Esfinge: Saber, Querer, Ousar e Calar.

Através do seu correto uso estaremos fazendo a manipulação desses “elementos” e será possível construir o caminho que permitirá percorrer as várias fases do processo de individuação que aproximam o homem do Todo, do Grande Um. Quanto mais coisas o indivíduo considerar como estando fora dele, maior será o que ele enxerga como o seu Meio Ambiente e, portanto, menor será o seu grau de individuação, mais afastado ele estará do seu estado de microcosmos, o seu Ser manifestado será ainda “pequeno”.
A ordem na qual os elementos serão trabalhados não é tão difícil de estabelecer – existe uma sequência quase que natural. Pode-se afirmar, com certo grau de certeza, é que o calar precede todas as demais, pois falar só depois de saber; é preciso saber o que querer para que não enveredemos por caminhos erráticos – quando desejar algo, passe para o Universo a mensagem correta; para conseguir o que queremos é, muitas vezes necessário ousar; uma vez conseguido o objetivo é prudente calar novamente para preservar a conquista. Chamar a atenção atrai todo o tipo de energias, principalmente, pela própria natureza humana, as mais densas. Ser famoso não deve ser fácil !
O autoconhecimento é um processo de criação de si mesmo, a criação do pequeno mundo que é análogo ao mundo superior. No entanto, a grande maioria, por ter uma falsa noção do seu conhecimento e do seu Saber, busca sempre começar por ali, achando que pode queimar etapas e acabam não construindo a verdadeira base de sua espiritualidade que é o trabalho realizado no mundo manifesto.
O método da analogia preconizado por Hermes Trimegisto em sua Tábua Esmeralda nos leva à conclusão de que a descoberta do microcosmos que conduz ao conhecimento superior, ao macrocosmos, só pode acontecer através da construção de si mesmo.
A grande alquimia do Mago, a transformação do chumbo em ouro, é exatamente esta – criar em si mesmo um microcosmos o mais semelhante possível ao macrocosmos – aproximar a semelhança da imagem.
ARCANO I – O MAGO LEI I – LEI DA ADAPTAÇÃO (PARTE 4 - COMO CRIANÇAS)
Continuando os comentários sobre as características da Lei I, representada pelo Mago, é importante saber como construir e percorrer um caminho, sem esmorecer ou desistir. O próprio Evangelho está repleto de analogias e parábolas como forma de ensinamentos de Jesus aos seus discípulos e usaremos um desses exemplos para prosseguir a discussão:
“... e Jesus disse-lhes: deixai vir as crianças a mim e não os impeçais, porque deles é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que qualquer um que não receber o Reino de Deus como criança, de maneira alguma entrará nele.” (Marcos 10:14,15)
Pode parecer, à primeira vista, para um leitor desavisado que o Mestre desejaria que nos tornássemos pueris para poder entrar no Reino dos Céus. Na realidade, o que se pode observar é que uma criança não trabalha, ela brinca. Mas, notem como ela é séria e atenta enquanto brinca! Sua atenção é plena e concentrada na brincadeira, e para isso ela não faz qualquer esforço. A atitude de qualquer um que deseja construir a si mesmo deve ser análoga à da criança, que só carrega fardos leves e que torna suaves todos os confrontos.
A consciência intelectual impõe fardos pesados, deveres e regras que se opõem à natureza instintiva do homem. A conciliação desses opostos só pode ser conseguida se pudermos ver algum tipo de beleza naquilo que se percebe como harmônico, equilibrado, verdadeiro ou justo. É difícil deixar de amar o que se reconhece como belo e, assim, o fator de constrição ou imposição desaparece; e o que era puramente uma obrigação passa a ser encarado também como prazer. O trabalho se transforma, assim, num jogo agradável que permitirá a concentração sem esforço.
Tome-se, por exemplo, o equilibrista ou o malabarista no desempenho de suas apresentações (Le Bateleur). Eles precisam estar completamente concentrados, pois, caso contrário, um cairia da corda e o outro deixaria cair seus malabares. No entanto, eles não raciocinam, nem imaginam, calculam ou planejam cada passo ou movimento; se estivessem usando o intelecto, certamente falhariam ou cometeriam erros. Aqui entra em ação o Sistema Rítmico – o Centro Intelectual do Sistema Rítmico, que atua quando aprendemos alguma coisa, como dirigir um carro, patinar ou andar de bicicleta. É disso que consta a concentração sem esforço: a transposição do Centro diretor - do intelecto para o Sistema Rítmico – do domínio do mental e da imaginação para o da ação e da vontade. A entrada no ritmo do Universo. É um ótimo exemplo de estar vivendo o “aqui e agora”.
Como conseguir ser criança? Trabalhando os elementos que nos são oferecidos como matéria prima para o nosso desenvolvimento e nos tornando “objetivamente” mecânicos. Precisamos entender que a subjetividade é um estado mental ao qual estaremos sempre sujeitos se tivermos de raciocinar e conjecturar.
Nossas mecanicidades são impostas pelas Leis que atuam em nós, como um piloto automático, governando as nossas ações, por não sermos capazes de entendê-las plenamente e explorar o seu potencial em nosso favor. Se não usamos a Lei, ela vai nos usar, porque elas não existem para nós e sim para manter o equilíbrio do Universo. No entanto, pelo próprio princípio da analogia, estas mesmas Leis existem dentro de nós, no microcosmo e, na medida em que ele vai se expandindo, pela construção de si mesmo, elas começam a atuar de dentro para fora e a entrar em sintonia com o Universo. O que estava fora e nos amedrontava passa a ser encarado como o retrato de verdades cuja beleza conseguimos reconhecer e admirar. Assim, o polo da mecanicidade se inverte e passamos a atuar de forma objetivamente mecânica, da mesma forma que o equilibrista e o malabarista. A rigor, não seria exagero afirmar que enquanto precisamos pensar para fazer alguma coisa, é porque ainda não “sabemos”, ou seja, aquilo inda não faz parte de nós, não foi incorporado ao ser.
Enquanto não se consegue esse estado de unificação, a Lei tem tudo para nos impor a sensação de que fazemos parte dela e não a de que ela é parte de nós. Os sentimentos de autossuficiência e independência que ela impõe decorrem de uma sensação de completude e costumam colocar na boca dos seus portadores frases como: “– Eu me basto!”. Outras consequências dessa falsa sensação de unidade são o individualismo e o pouco apreço pela opinião alheia, que pode fazer com que trabalhos grupais sejam extremante penosos e desprovidos de sentido, se não houver compensação por outras energias presentes no Eneagrama.
É preciso estar alerta, desde a primeira Lei estudada, para a realidade de que essas energias, ou Leis, não se destinam a atender especificamente o Ser Humano, como se ele fosse o centro do Universo e a razão de ser de tudo, o que muitos ainda insistem em achar. Entender isso, é uma forma de adaptação e não é sem motivo que essa energia é dispensada logo na primeira Lei, como quem diz: “ – Adapte-se para poder sobreviver e percorrer o seu caminho !”.
Não é preciso dizer que todo esse processo não vem de graça. Nada é fácil. Tem vida fácil um pianista para chegar a ser um virtuose? Quantas horas diárias precisa ele treinar e ensaiar? O que dizer de uma bailarina até chegar a solista? Quanto esforço e dores para suportar? Quantos tombos temos de levar até aprender a andar de bicicleta? Quantos sustos antes de aprender a dirigir um carro?
Assim, nunca se esqueçam do alerta já feito em outras ocasiões e textos:” – Se sua vida está muito fácil, desconfie! Alguma coisa deve estar errada! Você pode estar simplesmente patinando, gastando energia vital e recursos, mas não está indo a lugar nenhum.”
