
A figura do Arcano IV traz a imagem De um Faraó e tem algumas características que merecem destaque. É preciso, no entanto, ter sempre em mente que os simbolismos, de um modo geral, traduzem condições ideais que podem não estar presentes nas situações a que se referem e acabam se transformando em arquétipos cuja incorporação pelo Ser Humano costuma estar carregada de imperfeições.
Observe-se que o Imperador não porta armas e, portanto, o seu Poder é exercido apenas pelo Cetro que ele carrega na sua mão direita, sem a necessidade de qualquer tipo de coerção. O Cetro confere a ele uma autoridade subjacente reconhecida como legítima, oriunda de um Plano superior no qual está a Tríade Primordial. É o que se percebe quando a sua Coroa invade o Plano Espiritual do Arcano cuja cor é laranja, indicando uma mente voltada para a manifestação concreta no Plano Material.
O seu Governo é exercido sempre em nome de um Poder Superior do qual se transforma em porta-voz. Este é o motivo pelo qual vemos referências a Impérios que buscam significar mais do que um simples aglomerado de países/nações, incluindo na sua estrutura motivações e propósitos que teriam origem divina. Muitas civilizações mantiveram ou tentam manter seus Imperadores numa tentativa de não perder o vínculo de seus Governos com o Divino e garantir legitimidade perante as crenças de seus povos.
Ser um porta-voz exige uma isenção difícil de encontrar em nosso mundo. Exige a criação de um “vazio” interior que não interfira nas energias que emanam do Poder original. Esta postura de renúncia está representada pela posição sentada do Imperador, voltado para a esquerda, significando a ausência de opiniões, para deixar fluir a “revelação” da verdade e abrindo as portas para o “saber”; sem movimentos personalistas, para poder ser agente das ações superiores; sem “missões” pessoais, passando a ser encarregado de cumprir as tarefas recebidas. Este seria o sentido do “bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” do Sermão da Montanha – o espírito não pode estar “cheio” de coisas mundanas e pessoais, para poder dar passagem ao que é emanado da verdadeira origem do Poder.
Esta renuncia está representada pela mão esquerda fechada, num sinal de autocontrole, para que por ali não escapem essas energias mais sombrias do inconsciente e venham a interferir na direção em nome de um Poder Superior que deve ser praticado pelo Imperador. A legitimidade da autoridade do Imperador consegue ser percebida quando ela se manifesta dessa forma, porque ela se projeta sobre o Coletivo pensando sempre no seu benefício. A mão direita com o Cetro representa o “– Seja feita a Sua vontade”, ao passo que a esquerda fala “-- Seja feita a minha vontade”, caso venha a ser descerrada.
No plano Material do Arcano predomina a cor azul, indicadora de frieza e racionalidade, contendo um cartucho amarelo, tom que representa clareza mental e brilhantismo, envolvendo um hieróglifo de Poder e Domínio, mostrando a necessidade de que esses atributos sejam todos combinados no exercício do seu Comando. Isto será conseguido enquanto o Imperador mantiver a sua postura sentada, mostrada na figura. Para garantir que isso aconteça, aparece no trono sobre o qual ele se assenta a figura da divindade dual Bastet/Sekhmet nos seus aspectos lunar (gata) e solar (leoa) nas suas atribuições protetora e punitiva. O primeiro, atento contra o ataque de inimigos ocultos (simbolicamente, ratos, parasitas, cobras, etc.) na proteção do Faraó ou, o segundo, pronto para fazer cumprir os desejos de Rá (Poder superior), por quais meios forem necessários. A cor rosa das emoções que envolve a figura da divindade se liberta do cubo e passa a se misturar com a frieza e a racionalidade do Imperador, podendo chegar, em alguns casos, a se tornar predominante, como nos mostra o mito da Sekhmet cuja ira teve de ser aplacada por Rá antes que ela destruísse toda a humanidade no cumprimento de uma tarefa por ele atribuída.
O arquétipo que melhor representa este Arcano é o do Pai. Se não quisermos chamar de divino o Poder que ele carrega, pelo menos precisamos reconhecer que o Pátrio Poder, sem a conotação jurídica dos dias de hoje, se fundamenta em algo que transcende a simples regra. A autoridade de um Pai é reconhecida como legítima sem a necessidade de uma Lei que a estabeleça formalmente, desde que ele mantenha a mão esquerda fechada, isto é, exerça esse Poder sem deixar que ele seja contaminado pelas suas fraquezas e defeitos. Vários outros exemplos que poderiam ser citados acabam convergindo para este, como no caso do chefe ou um patrão querido por seus subordinados, que acaba sendo considerado “um Pai para eles”, ou como no jargão “Deus é Pai”, muito usado pelos crentes.
Outras aplicações dessa energia serão analisadas na segunda parte que vai tratar da Lei IV.
ARCANO IV – O IMPERADOR LEI IV – LEI DO CICLO
PARTE 2 – A LEI NA TRÍADE
Este Princípio simboliza a capacidade humana de observar todos os ritmos da natureza sob forma de ciclos de quatro partes, como por exemplo: as quatro estações do ano, os quatro elementos, os quatro tipos de elementais, a Esfinge, que é a forma integrada de quatro animais: Touro, Leão, Águia e o Homem. Decifrar a Esfinge implica em estar livre da condição da mortalidade.
Se prestarmos atenção, veremos que na natureza estamos cercados pelo número quatro, da mesma forma que por vários outros números envolvidos no processo de criação.
Os 4 Elementos da Natureza : Fogo, Ar, Água e Terra
Os 4 Pontos Cardeais : Norte, Sul, Leste e Oeste
As 4 Fases da Lua : Nova, Crescente, Cheia e Minguante
As 4 Raças Típicas : Branca, Negra, Amarela e Vermelha
As 4 Idades do Homem : Infância, juventude, maturidade e velhice
As 4 Estações do Ano : Primavera, Verão, Outono e Inverno
Os 4 Aforismos Esotéricos : Calar, Saber, Querer e Ousar
O quaternário engloba as quatro fases indispensáveis em qualquer processo criativo:
Criação / Expansão / Realização / Usufruto.
A segunda Tríade é composta pelas Leis 3-4-5, na qual a energia ativa é representada pelo 3 resultante da primeira Tríade, que é aqui repetido para poder ser trabalhado nesta nova etapa do processo. É esta repetição que dá sentido de utilidade e completa à Tríade anterior – é o Usufruto. A Lei IV é, portanto, a energia passiva, ou receptáculo onde vai ser trabalhada a entrada recebida. Que resistência pode ser oferecida neste ponto a uma oportunidade vislumbrada no final da Tríade anterior? A oportunidade aponta o que deve ser feito. A dificuldade está no como fazer. Para desempenhar esse papel, a Lei IV precisa oferecer essa possibilidade, o que ela faz ao proporcionar ao seu portador a capacidade de identificação e conhecimento dos processos necessários para montar a estrutura que vai suportá-la. O eventual insucesso nessa tarefa pode ensejar a perda da oportunidade e a incapacidade de o candidato a Dono do processo concretizar a sua pretensão.
Manter a oportunidade do processo é o motivo que leva os “Donos” em potencial a delegarem a especialistas as funções mais específicas de áreas não dominadas por eles pois, como já vimos, não faz parte de suas característica cuidar dos detalhes de execução. A existência dos “Executivos” de empresas, por exemplo, decorre dessa postura. No entanto, nada impede que os Donos assumam eventualmente essa tarefa, pelo menos nas fases iniciais dos projetos, quando possuem o conhecimento para desempenhá-las.
A capacidade de vislumbrar os processos que podem vir a materializar uma oportunidade é chamada de “Visão”. Esta é uma característica das pessoas empreendedoras que ao perceberem uma oportunidade, sabem exatamente como aproveitá-la, como levar adiante uma ideia para transformá-la em realidade, pois sabem exatamente tudo o que está envolvido. Mais uma vez podemos perceber a Unidade da Tríade, onde as energias se apoiam para permitir o fluxo do processo. Não podemos dizer que o “Dono” não tem Visão... Não foi ele que vislumbrou a oportunidade? O “Executivo” também a tem, em outro nível, quando identifica e conduz os processos que podem dar corpo a uma ideia. A unidade da Tríade exige que as visões estejam em sintonia para poderem prosperar. O resultado dessa harmonia vai se refletir numa competência e, mais adiante, numa Mestria, quando começar a repercutir no Coletivo.
Esta competência atribui Autoridade aos portadores da Lei IV. Uma autoridade que não é necessariamente legal ou formal, mas sim uma autoridade legítima decorrente do seu reconhecimento. “ – Fulano é uma autoridade em Direito Penal”. Frases desse tipo são ditas frequentemente para expressar legitimidade. No entanto, isto só pode ocorrer quando há sincronia e unicidade, isto é, as Visões são coincidentes, o “Espírito da Lei” é respeitado. Este é o fundamento do “Saber”. Num nível místico é o que se chamaria de “revelação”.
É esse sincronismo que garante que o Imperador mantenha a mão esquerda cerrada no simbolismo apresentado anteriormente. Porém, frequentemente vemos exemplos de casos em que ele desaparece, principalmente quando aquele que deveria ser um porta-voz se arvora em origem do Poder, dando ensejo a exercícios de autoritarismo e arrogância do tipo “ – Sabe com quem está falando?!”. O Poder Original é delegado para a condução do processo, mas nunca é transferido.
Na realidade não é o Poder que corrompe. Isto nunca poderá acontecer se ele for exercido em nome da sua origem porque, neste caso, o Poder e o seu executor se confundem. O Ser Humano se corrompe, ele próprio, quando o exerce em seu nome, esquecendo-se da sua verdadeira origem.
A ideia de Unidade das Tríades ajuda a explicar muitos casos em que as pessoas manifestam determinadas características, sem que as Leis correspondentes figurem na camada material de seus Eneagramas e, também, porque outras pessoas as percebem, mesmo quando não as temos presentes diretamente. Talvez essa seja uma das poucas ocasiões em que pode se dizer que o “Universo conspira a nosso favor”.
O Imperador representa a energia masculina da paternidade, o Regente do mundo material estruturado e regulado pela aplicação da Lei. O arquétipo do Pai conhece os caminhos do mundo e como viver dentro dele. Ele mostra o seu amor através do estabelecimento de regras que demarcam o caminho seguro, um amor manifestado de forma diferente daquele da Grande Mãe, embora possa ser até mais protecionista do que ela, uma vez que sempre zela para que a ordem dos processos materiais não seja perturbada. Toda regra imposta tem uma finalidade e um motivo que, uma vez entendido, pode fazer com que as restrições não pareçam tão severas.