ARCANO VII – O CARRO LEI VII – LEI DO MOVIMENTO
PARTE 1 – SIMBOLISMO
Este comentário se inicia por uma afirmação óbvia que, no entanto, precisa ser encarada na sua correta perspectiva: “ O Sete aparece depois do Seis”. Precisamos entender o que está por traz dessa obviedade.O Carro é basicamente uma plataforma de movimento. Em quase todos os Tarôs este Arcano é sempre representado por uma figura Real conduzindo, sem o uso de qualquer rédea ou arreio, uma carruagem puxada por dois animais físicos ou míticos de cores diferentes.

O movimento em direção a um destino normalmente é iniciado, ou pelo menos deveria ser, após a sua escolha, ou seja, o objetivo a ser alcançado depende de uma decisão anterior. O movimento (Lei VII) segue-se a uma escolha (Lei VI). Seria bem mais simples se isso bastasse. O que vemos, porém, é que o movimento pode sofrer várias interferências que podem desvia-lo do seu objetivo. Os dois animais de tração representados em cores clara e escura caracterizam a permanente dualidade e o potencial sempre presente de que, embora uma decisão tenha sido tomada, a alternativa abandonada continua exercendo influência sobre o caminho, procurando altera-lo. Além disso, as próprias dificuldades do trajeto, sejam elas físicas ou circunstanciais, contribuem para reforçar a ação do polo não contemplado.
A ausência de apetrechos físicos de controle dos animais de tração indicam a necessidade de que a direção do coche seja feita pela vontade e força mental do seu condutor. Aqui não podemos deixar de recorrer à analogia entre o Arcano e o simbolismo da carruagem nos ensinamentos Indus na parábola do Ser. O Ser é o Amo, a Consciência que utiliza a mente (cocheiro), o corpo (a carruagem) e as emoções (cavalos) para chegar ao seu destino final. No nosso caso atual o cocheiro não usa rédeas, o que reforça a importância do poder mental e da vontade firme, para equilibrar as emoções descontroladas que porventura se originem nos cavalos.
Observe-se na figura do Arcano que o condutor da Carro é o Imperador do Arcano IV, o porta-voz do Poder Superior no mundo material. Acima dele está o Sol Alado, representando Rá, o Deus Criador, em nome de quem ele deve falar e que pode ser associado à Tríade Primordial. É o predomínio do Espírito sobre a matéria, representado pela expressão 3 + 4 = 7. Esta premissa é sustentada ainda pela postura do cocheiro portando o Cetro na mão esquerda totalmente contido na coluna violeta do Carro o que significa que suas atitudes e decisões devem sempre ser buscadas na inspiração. A espada na mão direita atravessa as colunas amarela e rosa, indicando a necessidade de que suas ações decorram do equilíbrio entre um mental claro e confiante e um emocional sob controle.
Não é sem motivo, portanto, que a Lei Universal associada seja a Lei do Movimento. É aqui que nós “cedo madrugamos”, como no ditado popular, fazendo a nossa parte ao realizar os movimentos necessários para aproveitar a ajuda trazida pelas inspirações e intuições. É mais que natural que os portadores desta Lei, ao dela fazerem uso de forma apropriada, se sintam “abençoados” ou especiais pelos resultados alcançados. É o sentimento de Vitória que traz a sensação que somos capazes. Não esquecer, porém, que nada seria possível sem o movimento indispensável para levar as nossas escolhas e decisões a bom termo. Sem isso, é fácil saltar rapidamente da benção para a maldição, do especial para o perseguido pelo destino. Tudo apenas porque não fizemos a nossa parte do trato. O movimento é o útero no qual gestamos as nossas escolhas.
LEI VII – LEI DO MOVIMENTO OU LEI DO RITMO (PARTE 2)
No estudo do Eneagrama individual, costumo recomendar a aqueles que não possuem a Lei VII na primeira camada que “fabriquem” esta Lei, isto é, que puxem conscientemente essa energia para o seu dia-a-dia. Essa atitude consciente de trazer o movimento para nossas vidas pode tomar vários nomes como proatividade ou iniciativa, mas no estudo dos processos do Eneagrama ela é denominada “Choque Consciente”. É um aporte de energia extra para colocar em movimento um processo estagnado ou que perdeu força. É comum sermos responsabilizados por permitir que esse declínio energético se instale. Isto não é totalmente verdade. Somos responsáveis sim, mas não pelo declínio e sim por não tomar as medidas necessárias para compensá-lo através de um Choque Consciente.
Na densidade da dimensão em que vivemos existem perdas energéticas naturais decorrente de atrito e resistências de várias naturezas que fazem com que seja impossível que o impulso inicial seja suficiente para levar um movimento ao seu objetivo, sem perdas de direção ou de intensidade. Estabelece-se assim a analogia com a escala musical, onde aparecem semitons ente a 3ª e 4ª notas e entre a 7ª e 8ª notas. É como se entre assas etapas dos processos existisse menos espaço para acomodar e trabalhar a energia transferida das etapas anteriores, ou seja, uma ausência de receptáculo. Por isso, os processos tendem a ter maiores dificuldades quando chegam nesses pontos, necessitando de uma intensidade maior para “forçar” a sua passagem. É aí que entram os “choques conscientes” – aportes extra de energia para incrementar os processos como, por exemplo, uma segunda lua de mel para evitar a crise dos 7 anos nos casamentos, um novo produto no terceiro ano de vida de uma empresa, ou um filho para movimentar um casamento e vários outros exemplos que poderiam ser aqui elencados.
Estatisticamente, pode ser observado que grande número de empresas desaparecem no seu 3º ano de vida e similarmente podemos constatar que a 3ª e a 7ª etapas de qualquer processo, sejam elas consideradas da maneira que forem, sempre oferecerão maior resistência ao seu desenrolar, exigindo medidas corretivas que irão depender em grande parte da vontade e da criatividade de seus “administradores” para poderem prosperar. Esta é a essência do “choque consciente”.
Cabe nesta Lei a frase de Einstein, já citada anteriormente em outro artigo: “ – a vida é como andar de bicicleta; é precisa estar em movimento para manter o equilíbrio”. Os movimentos conscientes são sempre realizados em direção a alguma coisa que foi previamente escolhida como alvo – um objetivo, um sonho, um destino, em suma, uma motivação capaz de manter a energia num nível suficiente para faze o processo caminhar.
No Tarô divinatório esta energia é normalmente associada à vitória e ao sucesso, o que pode estar correto ou não. O que pode ser antecipado numa leitura desse tipo é que, caso os movimentos necessários sejam feitos, aa chances de sucesso serão muito elevadas. Tudo vai depender do “consulente”, da maneira como ele vai tratar a energia, se vai fazer os movimentos necessários, se vai se manter em equilíbrio. A leitura dos Arcanos vai informar que existe uma energia à sua disposição – cabe a você utilizá-la ou desprezá-la.
Uma leitura divinatória do Tarô é como uma foto instantânea e precisa ser encarada como um exercício de autoconhecimento que vai permitir que você assuma o papel de protagonista da sua própria vida, conduzindo-a de acordo com a sua vontade, ou permaneça como mero figurante nela, incapaz de mudar os seus rumos e sujeito a interferências externas que nada têm a ver com o papel que deve desempenhar nesta vida. Uma leitura nunca deve ser encarada literalmente nem de forma fatalista, mas como probabilidades cuja ocorrência vai depender do lado da Energia você vai escolher para trabalhar – o objetivo ou o subjetivo. Você pode materializar qualquer um deles. Nós fazemos as previsões acontecerem. Por isso, os leitores de Tarô devem ter muito cuidado com a maneira pela qual apresentam suas leituras.
Mas, mesmo a vitória tem os seu percalços. A grande virtude do Sete é a de vencer os seus medos, porque ele também os tem: o medo de ter feito a escolha errada, a incerteza sobre a correção de suas motivações, o medo de induzir ao erro, o medo da derrota. O eterno conflito entre o sucesso e o fracasso. Daí estar ele sempre sujeito a episódios de frustração.
Viver a Lei sete significa saber detectar o enfraquecimento de sua energia e dar os choques necessários nos momentos oportunos. Significa ter sempre um objetivo, por menor que seja. Todo triunfo alegra a Alma e incentiva novas caminhadas e novos movimentos. Sonhar sim, iludir-se nunca. É necessária uma grande estabilidade para manter as forças antagônicas ou instintivas que conduzem o veículo sob controle. Ninguém deve iludir-se em sua viagem, achando-se só e imune a tudo, sem dever satisfação a ninguém. Seu olhar no futuro não pode ignorar por onde está passando, achando-se acima da realidade terrena e dos seus semelhantes. A proteção sobre sua cabeça não pode deixá-lo imune às influências superiores. Sua jornada exige coragem, força e percepção. Sua essência é o movimento, mas não deve perder o equilíbrio.
Como corolário, o caminho para a vitória não pode ser percorrido cegamente, não considerando ou passando por cima daqueles que encontra em seu caminho e que nada têm a ver com ele. Até que ponto podem ser aceitos, se é que podem, os “danos colaterais”? Esta Lei vai desembocar, em sequência, na Lei VIII – A Justiça que, como veremos, não tem os seus olhos vendados.