ARCANO XII – O APOSTOLADO LEI XII – LEI DO SACRO-OFÍCIO
PARTE 1 – SIMBOLISMO
A representação deste Arcano é, talvez, a que encerra a maior complexidade. Suas lições e mensagens são fáceis de entender, mas difíceis de aplicar em nós mesmos quando chega a hora. Vamos basear este simbolismo nos ensinamentos de Mebes e Eliphas Levi sobre os significados ocultos dos Arcanos.
No Plano Espiritual, vemos uma cruz dentro de um círculo, representando a manifestação do princípio de quaternidade espiritual no universo criado. Esta figura tem um grande valor simbólico onde o centro exprime a unidade original, os quatro raios representam a saída para manifestação através dos quatro elementos ou das quatro direções e a circunferência exterior indica o retorno à unidade. É uma representação intermediária entre o círculo e o quadrado, entre o Céu e a Terra.
No Plano Astral vemos a imagem de um homem pendurado pelos pés, de cabeça para baixo. As colunas coloridas representam o conhecimento, a diversidade do seu conteúdo - todas as cores estão presentes, traduzindo a riqueza desse conhecimento e a variedade de suas possibilidades de utilização. Esta característica de equivalência entre riqueza de cores e de conteúdo pode ser aplicada a todos os Arcanos do Tarô Egípcio, sejam eles Maiores ou Menores. O Arcano representa a potencialidade de exercer qualquer tarefa ou trabalho. A saia azul simboliza a simplicidade. Suas pernas desenham uma espécie de cruz sobre um triângulo, símbolo alquímico da realização da “Grande Obra”. A seminudez representa sua exposição voluntária aos desígnios do mundo no qual vive. Podemos associar as nove divisões das pilastras aos nove atributos divinos e também aos nove pontos do Eneagrama.

É possível ainda associar uma pilastra à energia ativa e a outra à energia passiva, uma ao lado aparente e a outra ao lado oculto, uma ao Eneagrama aparente e a outra ao Eneagrama oculto. A rigor, embora não apareça assim no Arcano, uma das colunas poderia ter as suas cores menos vivas, apenas para lembrar que esta potencialidade pode se desenvolver dos dois lados da polaridade.
No Plano Físico, o hieróglifo “mes” significa “dar a luz”, simboliza o “fogo”, a centelha divina concedida ao homem, indicando que o ouro dos alquimistas simboliza a construção do si mesmo, deixando aflorar os atributos do Ser a nossa disposição.
Hermeticamente, o título principal do Arcano é Messiah (Messias), depois Caritas (caridade) e finalmente Zodiacus (Zodíaco). Messias é o enviado, aquele que se sacrifica pelos seus semelhantes. Tem seus pés voltados para cima e a cabeça virada para terra, simbolizando que seus melhores talentos e recursos são oferecidos a Terra (simbolizado pelas moedas que caem) e nela concentra sua atenção. Ele tem um ponto de suspensão e não de apoio. É um enviado do Plano Superior para os Planos inferiores sob a forma de um sacrifício voluntário de quem vem de cima, a fim de servir os que estão embaixo. Representa a sujeição do homem aos seus potenciais de destino, inscrito nas 12 casas celestes do zodíaco. O homem aceita voluntariamente o sacrifício da vida na matéria, onde terá que se defrontar com todas as limitações e obrigações
Numerologicamente o 12 representa sempre uma realização, a conclusão de um ciclo ao qual se segue uma nova fase, no caso do Tarô, um renascimento. Doze é o número de divisões espaço-temporais e de setores galácticos. É a combinação do mundo do espaço (quatro) com o tempo sagrado (três), resultando no mundo acabado. É considerado um número de eleição – as doze tribos, os doze discípulos, as doze portas da Jerusalém celeste, os doze Cavaleiros da Távola, os doze signos do Zodíaco, os doze raios da natureza divina.
Entender todo este simbolismo é muito importante para perceber a sua transposição para a nossa vida real no mundo em que vivemos e que será alvo da segunda parte destes comentários.
ARCANO XII – O APOSTOLADO LEI XII – LEI DO SACRO-OFÍCIO
PARTE 2 – REFLEXOS NA VIDA REAL
Esta Lei fecha a Tríade (10-11-12) e dá início a Tríade seguinte (12-X-13) que, como pode ser visto pela notação apresentada, é incompleta, faltando-lhe a sua parte de recepção, ou o receptáculo que vai permitir que a energia proveniente da fase anterior seja trabalhada, facilitando a sua dispersão, o que faz desta fase um dos pontos mais prováveis de retardo ou interrupção dos processos. A Lei XII faz o encerramento do Ciclo da Ordem, ou Ciclo do Passado, no qual são construídas as bases do que vai ser realizado na fase posterior – o Ciclo da Materialização, ou Ciclo do Presente.
O Ciclo que ela encerra deve proporcionar ao seu final o coroamento de uma ideia, da busca de um objetivo, o privilégio de uma forma, uma decisão e deve permitir uma adequada distribuição e administração de recursos. Tudo isso está contemplado dentro desta Lei, pronto para ser materializado e não podemos jogar fora toda essa construção anterior, permitindo que a energia se perca. Isto é o que representa a variedade de cores ostentada pelo Arcano XII – um grande potencial disponível, pronto para ser utilizado e cujo aproveitamento vai depender apenas de nós.
Qual o ingrediente que precisa ser acrescentado para compensar a dificuldade oferecida pela Tríade seguinte incompleta? Qual a variável X a ser introduzida no processo? É preciso entender que todas as etapas anteriores deste Ciclo de Planejamento e Construção – O Ciclo da Ordem – precisam ter sido concluídas de forma objetiva e definitiva, para que essa variável possa ser encontrada. Viabilidade, objetivo, forma, avaliação de riscos, aplicação dos recursos disponíveis, em suma, tudo o que for necessário para garantir a materialização precisa estar definido sem margem de dúvida. Só assim será encontrada a variável X que deve acompanhar a entrada dessa energia na fase de materialização: o Desejo incontido e imutável de materializar o que foi desenvolvido. Este tipo de desejo implica obrigatoriamente em Determinação.
Quantas vezes, ao nos depararmos com o momento crucial de materializar uma decisão, somos tomados por dúvidas, arrependimentos, revisitações a caminhos abandonados, fazendo-nos hesitar ou mesmo abandonar o processo em curso? Quando isso acontece é sinal claro de que o Ciclo precisa ser refeito e identificados todos os pontos geradores das inseguranças e dúvidas. Muitas vezes somos obrigados a fazer sacrifícios conscientes para atingir nossos objetivos.
O sacrifício é algo que, nem sempre, consegue ser bem entendido pelos homens. A grande maioria o vê como algo que é feito contra a vontade à custa de grande esforço e sem nenhuma finalidade aparente. Dessas três afirmativas, somente a referente ao esforço pode ser considerada verdadeira, pois a esta altura, já é possível saber que tudo na vida tem um preço a ser pago.
A Lei do Sacro-Ofício nos fala de capacidade de doação e não de sacrifícios e sofrimentos, mas de uma troca justa e aceitável. Antes de tudo, é bom lembrar que somente podem doar, aqueles que têm algo a oferecer, caso contrário, tentar tirar de si algo que não está disponível, acaba se tornando, realmente, um sacrifício. Os portadores desta Lei são em geral pessoas de grande força interior, possuidoras de um conteúdo rico e variado que precisa ser disponibilizado, não só pela sua própria necessidade de manifestação, como também para atrair novas capacidades e dons (sentido da variedade de cores do Arcano).
Toda ação deve ter uma finalidade, um objetivo definido que vai caracterizar a troca, voltado para fora de nós, para o coletivo ou meio ambiente em que se vive. A doação não deve ser um ato vão, nem tomada como uma obrigação, por quem quer que seja. Todo sacrifício, entendido na sua correta acepção, deveria terminar sempre com um “valeu a pena...”. A única coisa que é comum a qualquer sacrifício é que se dá algo em troca de outra coisa que desejamos. Ele será inútil caso não esteja equilibrado e não tenha um propósito.
Aqueles que conseguem perceber isso, dificilmente sentir-se-ão explorados ou pouco valorizados nos seus esforços, pois terão conseguido os resultados desejados, pouco importando a opinião alheia. Retribuição é algo que não pode ser exigido pelos portadores desta Lei, apenas a satisfação de ter alcançado o seu objetivo já deve ser alimento suficiente. As cobranças decorrem sempre da falta de um objetivo definido que, uma vez alcançado, irá repor a energia despendida, seja ela de que tipo for ou no momento oportuno. A falta de propósito leva a um dispêndio de energia sem perspectiva de retorno, causando um “buraco” energético que precisa ser reposto de alguma forma, para restabelecer o equilíbrio perdido. Daí decorrem as cobranças de reconhecimento, numa tentativa de conseguir uma reposição forçada da energia perdida, na maioria das vezes sem sucesso.
Saber o que pode ser doado e o que não pode é fundamental para que seja possível ao portador da Lei dizer “não”, quando isso for necessário. Essa capacidade de administrar os recursos internos da mente e do espírito estende-se para a vida diária – ao mundo material – normalmente fazendo dos portadores desta Lei bons gerenciadores de recursos e projetos.
É preciso aprender a dizer ‘não’, quando necessário, e parar de achar que se pode arcar com o peso do mundo nas costas. Só é possível doar o que está disponível para doação, caso contrário, os resultados serão desastrosos para as partes envolvidas no processo. No nosso cotidiano, só se empresta, por exemplo, dinheiro (uma forma de energia) a outra pessoa, quando existe disponibilidade. Assim mesmo, espera-se o seu retorno no devido tempo. Não pode ser diferente quando se trata de um processo envolvendo outros níveis energéticos, com a única diferença de que o retorno não precisa ser feito diretamente pelo beneficiado.
Não conseguir dizer “não” é uma manifestação subjetiva da energia do Arcano, decorrente de uma sensação de obrigação auto assumida, uma forma de “messianismo” que deve ser combatida. Uma atitude como essa leva, fatalmente, ao desgaste energético, muito além das possibilidades de doação, tornando-se autodestrutiva e incoerente com o próprio instinto de sobrevivência e com a responsabilidade com a manutenção do próprio caminho evolutivo.
Dificuldade de cobrar pelos seus serviços ou, então. ter empregados e não usá-los para cumprir as suas tarefas, são manifestações distorcidas da Lei.
A tendência ao messianismo, ou seja, encarar tudo como uma “missão”, provoca grande desgaste físico pelo excesso de atividades, tornando o seu portador alvo fácil para oportunistas que acabam se acostumando a receber tudo e passam a querer sempre mais e mais. Encontrar a própria missão é algo muito difícil, principalmente porque no nível evolutivo do planeta, pouquíssimos são aqueles que a têm. Encontrar o caminho sim. Esta é uma lei importante para os que trilham o caminho evolutivo, pois ele é feito de renúncias e sacrifícios conscientes, feitos em níveis energéticos elevados e sempre de acordo com o objetivo a ser alcançado.
A perspectiva pela qual o mundo é encarado sob o enfoque desta Lei está bem de acordo com a representação do Arcano. É uma visão inversa, normalmente em desacordo com o que seria a lógica material, porque esta Lei não vincula a pessoa ao plano material e sim aos planos superiores que é de onde provém o único apoio do Arcano.
Viver adequadamente esta Lei significa, antes de tudo, seguir os seus sentimentos sem se sentir obrigado a fazer o que não pode, nem se sentir culpado por, em algum momento, não ter conseguido prestar ajuda. É, também, compartilhar o que pode ser compartilhado e entender que ajudar não significa, necessariamente, assumir a responsabilidade pelos outros. Sempre que fizermos isso, estaremos, provavelmente, tirando deles a oportunidade de crescimento e de autodescoberta. Ensinar a pescar é muito mais duradouro do que dar o peixe.
Existem outras maneiras de viver e extravasar esta Lei através da manifestação do conteúdo interior do seu portador na forma de trabalhos artísticos. Muitas pessoas, ainda, manifestam indiretamente esta Lei através de trabalhos com pessoas que estejam passando por situações de sacrifício, sem se envolverem ou assumir para elas os problemas alheios.