“ – Se fosse uma cobra, me mordia !”
A frase que abre este artigo é um dito popular muito usado para descrever uma situação na qual algo está na nossa frente e não vemos. Podemos estar distraídos, ou com foco equivocado, voltado para um lado onde esperamos encontrar o que estamos procurando. Este é um sentimento com o qual convivo frequentemente no dia a dia, e também quando estou buscando respostas nos estudos de autoconhecimento e, arrisco afirmar, é uma carapuça que veste a maioria de nós – Seres Humanos. Mas, o mais intrigante é que, na maioria das vezes, não é necessário nem mesmo uma nova grande descoberta, mas apenas um redirecionamento de foco, para encarar o que já sabemos sob uma nova perspectiva.
Uma característica indispensável para um pesquisador é a de sempre questionar as coisas que lhe são apresentadas. O objetivo desse questionamento não é simplesmente concordar ou discordar, pois isso costuma ser, em grande parte dos casos, uma mera reação instantânea superficial, apenas para marcar uma posição, baseada, quase sempre, nos paradigmas que temos armazenados. O que precisamos fazer para chegar a um verdadeiro questionamento é, justamente, refletir sobre a maneira pela qual a nova informação afeta os nossos pressupostos, se a roupagem com a qual ela nos é apresentada nos satisfaz, ou se ela pode se encaixar ou preencher alguma lacuna do nosso Conhecimento, com um pequeno desvio de função. Mas, infelizmente, quase nunca fazemos isso. Os novos “insights” não têm hora para surgir e costumam nos surpreender pela sua obviedade e absoluta confiança que despertam em nós.
Vinha eu, já há algum tempo, buscando um elo entre o Eneagrama e o nosso “Contrato” para esta vida, quando a cobra, finalmente, me mordeu e me dei conta de que estava olhando por uma ótica distorcida para os Arcanos Menores que representam as situações de vida, atribuindo a eles um caráter predominantemente divinatório do tipo do tipo “ isto um dia vai acontecer com você”. Este olhar nos coloca numa postura passiva de esperar que as coisas aconteçam, para, só então, começar a tratar delas. É bom que se frise que não se trata, aqui, de embarcar em pré-ocupações e ansiedades que podem afetar a nossa estabilidade. Estamos falando de proatividade, com uma mudança de paradigma saindo de “isto um dia vai acontecer com você” para entrar em “isto tem que acontecer com você”.
Esta nova postura decorre do entendimento de que o Universo não nos dá nada de mão beijada, mas coloca em nosso caminho situações que, se encaradas competentemente, vão permitir que nossos objetivos sejam alcançados. Vejam o exemplo de Dorothy e seus três companheiros de viagem em O Mágico de Oz. Foram as situações com que se depararam ao longo da sua jornada que permitiram a eles alcançar os seus desejos de coragem, intelecto e coração, mesmo antes de chegarem a Oz, onde o Mago acabou se mostrando um grande charlatão. É ao percorrer o nosso caminho e enfrentar os seus desafios que podemos cumprir o nosso “Contrato” e alcançar os objetivos a que nos propomos. A nossa “yellow brick road” está traçada nos Arcanos Menores do Eneagrama e cabe a nós identificar os seus meandros e vestir em cada situação o Arquétipo adequado para lidar com ela, sem fugir ou ter medo de enfrentá-la, ou deixar-se influenciar por emoções do inconsciente. Não podemos ver as situações de vida como previsões que devemos temer e que precisamos evitar. Ao contrário, o Eneagrama nos oferece um mapa do nosso caminho , mostrando as situações que precisamos enfrentar para chegar a Oz. O Universo não é como o Gênio da Lâmpada que satisfaz os nossos desejos sem questionar. Ele sempre nos pede uma prova de que é isso mesmo que nós queremos.
A energia das Leis que governam essas situações nos oferecem pistas excelentes para encontrar os Arquétipos que precisamos encarnar em cada uma delas. Estou organizando uma lista desses personagens que poderiam ser enquadrados em cada uma das Leis e espero poder divulgá-la em breve. (1)
Em alguns casos o Arcano Menor presente num determinado Ponto do Eneagrama já expressa, ele próprio um arquétipo, especialmente quando ele faz parte da Corte, ou seja, Reis, Rainhas, Cavaleiros e Valetes. Nestes casos, teremos de verificar se eles podem ser aplicados a nós, especialmente nos casos de Reis e Rainhas. Mas vamos deixar isso para uma análise posterior, mais ligada a leituras.
(1) A relação ja foi publicada no Site.
