LIKES E COMENTÁRIOS
Aqueles que frequentam as Redes Sociais, mesmo que esporadicamente, já devem ter notado que os que se intitulam “influenciadores” gastam uma considerável parte de suas publicações, especialmente no caso dos vídeos, conclamando o seu público a se inscrever, a deixarem seus “likes” e comentários e ativarem o “sininho” das notificações. Alguns fazem isso na abertura, mas outros interrompem as narrativas em diversos pontos para lembrar os assistentes da sua quase obrigação, o que é extremamente irritante e até mesmo ridículo, quando procuram criar um suspense, protelando informações que só eles julgam importantes.
Este tipo de expectativa merece uma análise que contemple os vários fatores envolvidos, especialmente o porque de os potenciais seguidores serem tão preguiçosos e relutantes em oferecer comentários espontâneos e até mesmo provocados.
É interessante notar que, de um modo geral, as pessoas não hesitam em comentar assuntos de política, religião, entretenimento, “fofocas”, em suma, temas que não exijam um olhar para dentro de si mesmo. Numa sociedade em que uma imagem pública é mais importante do que aquela que fazemos de nós mesmos esta é uma postura que não pode ou deve surpreender.
Ao fazer comentários ou perguntas, na opinião de muitos, estamos incorrendo numa situação de risco. Risco de que? Risco de parecer ignorantes? De ser ridicularizados? De não concordarem com as nossas posições? De parecer estar passando sinais de fraqueza? Então, por que no caso da política e da religião e outros temas também populares isso não ocorre?
Provavelmente porque nesses casos nunca se está sozinho. A pessoa se sente protegida por fazer parte de um grupo que oferece respaldo para as suas posições. Existe um “inimigo” contra o qual dirigimos nossas baterias. As opiniões, nesses casos, quase nunca são próprias e, em geral, a entrada nelas é por “adesão”. Ninguém se sente ameaçado pela opinião do “inimigo”, ao contrário, o normal é lutar com todas as forças para desacreditá-la e derrubá-la.
Ao compartilhar uma criação existe sempre algum objetivo e essa ideia pode ser aplicada a todos os campos da vida. Não seria exagero afirmar que o objetivo principal e, talvez, até o único e maior guarda-chuva, é sempre o de obter retorno. O tipo de retorno é que pode variar. Se houver um lado comercial envolvido, estamos falando de um retorno financeiro, que pode ser maior ou menor, dependendo da natureza do que é compartilhado. É preciso não confundir o que é compartilhado com a reação provocada. A reação caracteriza o retorno que pode ser positivo, negativo ou, simplesmente, não existir.
Nos casos apontados anteriormente é fácil um retorno positivo ou negativo quando endossamos ou rejeitamos posições políticas e religiosas de correligionários ou de opositores e até mesmo de fãs, porque estaremos sempre embarcando numa canoa cheia de passageiros que, em princípio, se destinam ao mesmo lugar. Em suma, o risco de uma réplica desfavorável, restringe-se sempre àquelas provindas do “inimigo”, contra as quais nos sentimos blindados pela aprovação do nosso grupo.
Muito diferente, no entanto, é meter o bedelho em assuntos sobre os quais não existe nenhum tipo de consenso, para tirar dúvidas ou compartilhar opiniões pessoais sobre as quais não temos, nós mesmos, qualquer grau de certeza. É aqui que surge a omissão.
Fico imaginando o que será de uma humanidade repleta de Ofélias que só “abrem a boca quando têm certeza”. Aqui se encaixa perfeitamente a frase de Einstein, que já citei em outro artigo, quando ele disse que “Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.” Esquecem-se os que se omitem e deixam de participar, que os que publicam este tipo de trabalhos também não têm certeza de nada e o retorno que esperam são as contribuições, na forma de comentários e sugestões, que o ajudem a encontrar a trilha correta. Um simples “like”, ou “dislike”, por si só, numa publicação, não significa muita coisa para quem não busca retorno comercial. Importantes são os comentários, as dúvidas, as sugestões e até mesmo as críticas, porque só com eles é possível melhorar o trabalho, burilar as ideias, reformular posições ou buscar novas abordagens.
Existe a falsa impressão de que basta estar presente para participar e que ouvir ou assistir é o suficiente. É praticamente impossível que alguém que se dedique seriamente ao estudo de um assunto novo, ou com o qual não esteja plenamente familiarizado, concorde imediatamente com tudo que lhe está sendo apresentado, sem qualquer dúvida para ser esclarecida. Não consigo ver a participação em algo como uma atitude meramente passiva. Entendo qualquer participação como uma via de duas mãos, onde sempre existe algum tipo de troca. Quem já teve a oportunidade de ministrar uma aula pode avaliar o valor de uma dúvida ou comentário oferecidos à discussão e como eles podem mudar completamente os rumos de uma abordagem ou de um entendimento. É impressionante como uma dúvida pode ser esclarecedora.
Tudo é uma questão de autoestima, o que não significa se achar melhor ou superior aos demais, mas de gostar de si mesmo e aceitar-se com todas as imperfeições inerentes ao Ser Humano, não necessitando que os outros venham dizer quão maravilhoso/a você é. Um dos grandes indicadores da autoestima que costuma ser ignorado pela maioria é o de ser honesto consigo mesmo, não se deixar enganar por um Ego que tenta aparentar algo que não é. Como corolário, vem a constatação de que é muito mais fácil ser honesto com os outros do que consigo mesmo, pois temos a ilusão de que só seremos cobrados pela nossa honestidade social, porque nos acostumamos a fechar os ouvidos às “cobranças” do nosso próprio Ser.
Portanto, sempre é bom participar, comentar, sugerir, com a certeza de que muitos poderão se beneficiar das suas intervenções, pois é provável que a quantidade dos que têm a mesma opinião seja bem maior do que você pensa.
